Título conquistado, é hora de retribuir. Em Duque de Caxias, o zelador do Orixá da Acadêmicos da Grande Rio, Danilo Gayer, prepara o agradecimento que será feito a Exu após a associação levar o troféu de campeão do carnaval carioca. A cerimônia está marcada para o dia 14 de maio e será realizada no Terreiro do Zelador, na Baixada Fluminense. Conforme ele, será “uma grande festa, com oferendas de agradecimento, um axé para Exu”. O religioso é o mesmo que liderou a cerimônia realizada antes do desfile e que “garantiu” o título ao Tricolor Caxiense.
Danilo só expôs ao EXTRA os detalhes da cerimônia que aconteceu na segunda-feira antes do desfile, 18 de abril, pontualmente à meia-noite, no cruzamento da região da Cidade do Samba. Toda a Comissão de Frente da escola compareceu, incluindo o ator Demerson D’Alvaro, que interpretou Exu, e os coreógrafos Hélio e Beth Bejani.
“O trabalho espiritual que Exu fez está feito. Demerson foi o primeiro em tudo, desde ensaios técnicos. Na segunda-feira anterior aos desfiles, foi feito o purê, a confecção do padê de Exu. Ele (Demerson) sempre primeiro e até os dois coreógrafos. Os homens faziam o padê de farinha com cachaça, as mulheres faziam o padê de farinha com mel. Cachaça e álcool, e fogo, e mel adoça. Os dois padês foram unidos, com a coroa de louros verde que Exu havia feito, dando-nos a vitória. Foi colocado tudo no padê, com outros essenciais que Exu pediu e fomos descarregar na segunda-feira, antes do Carnaval, à meia-noite em ponto em uma encruzilhada da periferia da Cidade do Samba. Exu quis receber naquele local e ali aceitou participar da festa. Era a oferta da vitória, havia muito naquela obrigação”, relatou Danilo Gayer.
Para ele, a vitória da Grande Rio foi ainda mais pessoal, pois muitos duvidavam da capacidade da escola de contar plenamente a história do Orixá, e também pela intolerância religiosa que muitas vezes vinha de pessoas da própria matriz do candomblé.
“Quando eu falei que Exu aceitou o enredo da Grande Rio, pessoas da mesma religião expressaram “ah, eu quero ver a força do pai de santo da Grande Rio”. Falaram que iam botar a escola para baixo, que não ganhavam nada, que tinham o rótulo de ser vice, de bater na trave, porque falar de Exu era muito afrontado, porque tinha que ter muita coragem e sabedoria. Fiquei calado na minha, porque ganhamos e agora estou calando muita gente. A intolerância religiosa começa dentro da própria religião. Dentro do candomblé, o zelador, a zeladora acham que são melhores que os outros, por terem sido arrancados de tal raiz, mas o que resta é o axé e a sabedoria da pessoa”, declara.
Danilo também elogiou a coragem do Tricolor de Caxias em abraçar um enredo com um personagem de Exu tão mal caracterizado como diabo ou algo do mal. Para ele, foi a primeira vez na trajetória do Carnaval carioca que a história do Orixá foi contada de forma adequada, tanto que ganhou o título que ele queria.
“Nenhuma escola teve a coragem da Grande Rio de desmistificar Exu. Colocaram uns carrinhos com diabinhos com chifres dizendo que era Exu, colocaram outra coisinha ali. Mas contando a história do começo ao fim, mostrando que não tem nada a ver com o diabo, que isso é ignorância, só a Grande Rio fez. Dentro de um vulcão de intolerância, Exu mostrou sua força e deu o título a Grande Rio, aquele que venceu o Carnaval”.
Auxílio para ator que protagonizou Exu
Grande nome da conquista da Grande Rio, Demerson D’Alvaro, que interpretou Exu na Comissão de Frente da escola, recebeu grande auxílio de Danilo Gayer. Nas provas técnicas, o zelador do Orixá deveria conduzi-lo pela Avenida, meio que abrindo a estrada.
“É preciso entender que o enredo carnaval foi apresentado pelos carnavalescos a Exu e ele aceitou que sua história fosse contada dessa forma. Então foi feito um convite para ele participar da festa, e ele aceitou. Então, no ensaio técnico, ele (Demerson) não estava sozinho, Exu levou. Ele tem todas as suas habilidades de ator, é um profissional maravilhoso, mas lá na Avenida não era ator, era Exu, era ele mesmo. A fé e o respeito desse ator fizeram dele um Exu”, afirma.
No dia do desfile da Grande Rio, Danilo apareceu em uma das plataformas da escola, mas antes voltou à Comissão de Frente antes de pisar na Sapucaí para finalizar todo o trabalho feito antes do carnaval.
